As ideias táticas de Jorge Jesus, novo treinador do Flamengo



Jorge Jesus é o novo técnico do Flamengo. Após o pedido de demissão de Abel Braga na última quarta, o português de 64 anos chega ao Rubro-Negro trazendo uma história de bons trabalhos, futebol ofensivo e várias polêmicas.



Técnicos portugueses são conhecidos por serem estudiosos, racionais nas decisões e muito táticos. Acreditam no jogo coletivo acima de tudo. Jesus é dessa linha, mas tem uma gestão explosiva de elenco e algumas brigas com direções, o que lhe gerou também polêmicas.

O principal trabalho da vida de Jorge Jesus foi o Benfica. Foram seis temporadas e 10 títulos, superando o recorde do clube com Artur Jorge. Também se tornou o treinador com mais vitórias (195) e o primeiro e único triplete doméstico no futebol português: Primeira Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga em 2013/14. Lá, estabeleceu uma verdadeira revolução: reconstruiu o clube com um estilo ofensivo, fazendo jogadores assumirem várias funções. Dessa escola saíram nomes com Salvio, Matic, Garay e Aimar, por exemplo.



Trata-se de um dos melhores treinadores portugueses da última década. Dono de personalidade forte, não abre mão de ideias como uma posse de bola agressiva, com jogadores sempre indo ao ataque e uma defesa sincronizada e sempre alta. Quer o time protagonista, jogando com velocidade, mas também adota postura mais pragmática em alguns jogos fora de casa. Não abre mão de um camisa cinco mais defensivo, como Matic e Willian Carvalho, e um centroavante de área.

A seguir, as ideias ilustradas com exemplos de seus principais e mais longevos trabalhos: o Benfica e o Spoting.


Com a bola, verticalidade e agressividade. Como o flamenguista quer

Em campo, um dos traços característicos das equipes de Jesus é a agressividade. Atacam o tempo todo, circulam rápido a bola, colocam sempre muita gente no ataque. É um futebol protagonista e veloz, com muitos jogadores à frente da linha da bola, como na imagem: Matic inicia a jogada dos zagueiros e tem 7 opções, sendo cinco delas quase no limite da linha defensiva do Chelsea.

Benfica propondo o jogo: Matic mais recuado e meias próximos — Foto: Leonardo Miranda
Benfica propondo o jogo: Matic mais recuado e meias próximos — Foto: Leonardo Miranda

Para ajudar nessa blitz em direção ao gol, um traço marcante do técnico é a predileção por centroavantes robustos, de área - peça que o Flamengo não tem. No Benfica, era Cardoso que servia de ponto de referência para os muitos cruzamentos na área e também para jogadas de pivô, como na imagem: ele sai da área, atrai a marcação de David Luiz e abre um espaço, pontilhado, em vermelho. Os atacantes rapidamente infiltram e recebem a bola. Jogada típica dos muitos títulos do Benfica do novo comandante da Nação.

Jogada de pivô — Foto: Leonardo Miranda
Jogada de pivô — Foto: Leonardo Miranda

Intensidade e pressão: os times de Jesus não param

Manter esse ritmo louco foi o que garantiu o recorde de pontos do Benfica em um dos campeonatos nacionais e muitas taças competitivas. Era uma intensidade absurda, com um mecanismo pensado para não sofrer tanto com esse avanço da equipe: o "perde-pressiona". Perdeu a bola? Avança rápido, mata a jogada e não deixa o jogador escapar. Muitas vezes quem avança pra fazer isso é o lateral e o zagueiro, colocando até o time inteiro avançado.

Perde pressiona do Benfica — Foto: Leonardo Miranda
Perde pressiona do Benfica — Foto: Leonardo Miranda

Linha alta e bola nas costas: o “contra” desse jogo a mil por hora
Como nada é perfeito, as equipes de Jorge Jesus costumam ter um problema: levam muitas bolas nas costas da defesa, que avançam demais. É um risco, calculado, mas é um risco. E o jogo é um exercício de escolhas. Quando não há pressão suficiente para recuperar a bola, os defensores precisam retornar rápido e matar a jogada. Veja como o time avança aqui, com um exemplo do Sporting, último clube português do treineiro.

Linha alta do Sporting — Foto: Leonardo Miranda
Linha alta do Sporting — Foto: Leonardo Miranda

Talvez a defesa seja o principal desafio de Jesus na Gávea. Era o principal problema do Flamengo de Abel. Renê e Pará são laterais ágeis, mas é a dupla de zagueiros que nunca atuou assim e pode ter problemas na adaptação. Ou levar mais jogos para entender as ideias. Terão paciência? Já no ataque, Jesus encontra um elenco talhado para seus ataques verticais. Bruno Henrique e Gabigol são especialistas em jogadas assim, atacando espaços. Éverton Ribeiro pensa correndo, e Diego pode se adaptar até pelo lado, como jogou no Atlético de Madrid.

A grande questão é que só Jesus não salva. Os problemas do Flamengo estão numa diretoria que parece pouco atenta ao futebol e mais preocupada em vencer a qualquer custo. Se Jorge Jesus foi a escolha para isso, logo sua carreira não foi passada a limpo. No Benfica, ficou três anos sem vencer o Campeonato Português para moldar a melhor versão da equipe, bi-vice da Liga Europa, bicampeã Portuguesa e papa taças entre 2013 e 2015. Jesus teve tempo para montar o elenco, desenvolver jogadores, colabora para o crescimento do clube em Portugal.




No Sporting, Jesus enfrentou o pior momento da carreira. Primeiro porque consquistou a raiva dos Benfiquenses ao sair no auge para reconstruir o clube, carente do Portuguesão desde 2001 - quando Cristiano Ronaldo estava por lá. É como se Tite pedisse demissão do Corinthians em 2016 para treinar o Palmeiras. Depois pelo seu trabalho não ter rendido nada além de uma Taça da Liga em 2018.

Como vai se sair agora? Impossível prever o futuro, mas sempre interessante ver novas ideias no sempre tumultuado e caótico Flamengo.


Fonte: https://globoesporte.globo.com/blogs/painel-tatico/post/2019/06/01/as-ideias-taticas-de-jorge-jesus-novo-treinador-do-flamengo.ghtml

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